Fósseis: milhares ou milhões de anos?
Numa definição bem vaga, fósseis são evidências de organismos que foram "registradas" em rocha. Mas de onde vieram os fósseis? Quantos anos eles tem? Para os Criacionistas da Terra Jovem - doutrina que defende que toda a Terra foi criada em 6 dias de 24 horas, tomando ao pé da letra a narrativa bíblica de Gênesis - , não interessa qual fossil seja, ou em qual camada geológica ele esteja: a idade sempre será aproximadamente 4 mil anos, pois tais fósseis vieram do dilúvio. Para as demais denominações e para a cominidade científica, a resposta depende muito de qual é o fóssil, onde ele está, qual a composição química da sua rocha, etc... e as datas podem variar muito, indo de 3,5 bilhões até 4 mil anos. E como geralmente reagem esses criacionistas? Para eles, quem considera estas idades que a ciência fornece vai na "contramão do cristianismo"...
Mas enfim, qual idade para os fósseis é a mais correta: a que o criacionismo da terra jovem fornece ou a que a geocronologia fornece? E a Bíblia está de qual lado: geocronologia ou Criacionismo da Terra Jovem?
SEM DATAÇÃO
Os Criacionistas da Terra Jovem - que aqui iremos referir como "CTJs" para efeito didático -, a princípio, raramente se atrevem a datar algum fóssil. Do sopé ao topo de uma rocha, a idade é a do dilúvio, pois para eles, foi o dilúvio que gerou os fósseis. Ou seja, todos os fósseis com a idade aproximada de 4 mil anos. E de onde vem esta idade? Métodos científicos? Não... a idade vem de um cálculo que foi feito em cima do Gênesis, onde somou-se a idade dos patriarcas para se chegar á data do dilúvio de Noé.
Embora há de se admitir que alguns poucos CTJs tentaram datar fósseis e alegaram ter chegado em idades próximas a 40 mil anos, além de ser uma idade ainda superior a que propõe o CTJ, foi utilizado, erroneamente para tal, Carbono 14! O Carbono 14 não serve para datar fósseis encontrados em substratos com idade relativa de milhões de anos, todos os físicos e cientistas sabem disso, pois a discrepância que dá é enorme: é o mesmo que tentar medir o estádio do Maracanã com uma régua de 20 centímetros... Sem falar que as datas a qual o método apontou entra em conflito com a análise paleoecológica e tafonômica (pois se há Carbono 14 em uma amostra não quer dizer que o Carbono 14 ali é realmente proveniente do decaimento de elementos do animal que "virou fóssil")... Sendo assim, se descartamos a possibilidade de se datar algo com C-14 por ele não ser adequado para fósseis, esses criacionistas voltam á posição inicial de datar os fósseis pela Bíblia.
Não dispondo, então, de um método de datação eficiente que comprove esta idéia (como a própria Sociedade Criacionista Brasileira já admitiu), tais criacionistas tentam se apoiar então no suposto argumento de que as datações propostas pelos evolucionistas são falhas ou tentam buscar alguma evidência de que os fósseis são recentes, sem, porém, recorrer em momento nenhum a algum método de datação.
Com isto, algo já podemos admitir com toda a certeza: a idade para os fosseis e para o nosso planeta fornecida pelos CTJs não é científica, pois se baseia apenas na genealogia registrada na Bíblia e não em estudos científicos ou em algum cálculo que prove por A + B essa idade.
Aliás, vale lembrar que tal cálculo baseado na genealogia da Bíblia também não está tão correto assim, como você pode conferir aqui.
INTERPRETAÇÕES DEFEITUOSAS
No entanto, ao menos o CTJ, mesmo sem conseguir datar nada, alega que todas as camadas sedimentares, com suas sucessões de fósseis, não são resultados de interpéries de milhões de anos, mas sim são resultados do dilúvio global do tempo de Noé ocorrido há 4 mil anos - de acordo com a soma das genealogias e não com nenhum método científico, como dissemos. Não que o Dilúvio não tenha acontecido (porque realmente aconteceu), mas o CTJ atribui as camadas geológicas a ele - só que alegar isto levanta muitas questões complicadas de se responder (ou até sem resposta), dificuldades que se escondem "por trás" da argumentação CTJ como um campo minado...
Inicialmente, para se explicar a distribuição dos fósseis na coluna geológica, existe toda uma explicação CTJ muito "defeituosa", tudo para defender a idéia de que os fósseis não tem milhões de anos e que os dias de Gênesis 1 foram literalmente dias solares. A explicação básica que eles dão é a distribuição dos fósseis seria na verdade produto da capacidade de cada espécie de escapar das águas do dilúvio por mais tempo. Como assim? Vamos mostrar alguns exemplos apontados pelo criacionismo e ver onde está o erro:
ALEGAÇÃO: Pterossauros são encontrados em camadas rochosas inferiores ás dos pássaros porque apenas planavam, não conseguindo fugir das catástrofes como os pássaros que conseguiam bater as asas e voar mais longe PROBLEMA: Vários estudos já mostraram que os pterossauros batiam as asas; nenhum cientista alegou que os mesmos não fizessem isto. Além disto, qual pássaro consegue voar sob 40 das e 40 noites debaixo de chuva? A Bíblia também não fala nada sobre isto.
ALEGAÇÃO: Artrópodes como os trilobitas teriam sido soterrados em camadas mais profundas devido a seus formatos hidrodinâmicos, que os fez afundar mais rápido. PROBLEMA: Se fosse assim deveríamos ter também caranguejos soterrados junto com trilobitas, uma vez que eles supostamente teriam vivido na mesma época e foram encontrados fósseis de trilobitas no mundo todo e em abundância. Mas não é o que vemos na vida real: nunca foram encontrados caranguejos soterrados com trilobitas em uma mesma camada geológica.
ALEGAÇÃO: Vertebrados terrestres teriam sido capazes de fugir do dilúvio para locais de maior altitude, sendo soterrados nas camadas mais altas PROBLEMA: Pequenos roedores da era atual se encontram em camadas superiores á espécies ágeis e de grande porte como os exímios Dromeossaurídeos (família do Velociraptor). Pela lógica CTJ, então, um hamster, por exemplo, teria conseguido escapar às aguas violentas do dilúvio com maior eficiência que um Velociraptor - algo que foge bastante à lógica...
ALEGAÇÃO: Angiospermas (plantas com flores) estariam ausentes de camadas inferiores às atribuídas ao Cretáceo por terem existido apenas em uma região isolada do globo antes do dilúvio, sendo geograficamente segregadas já antes do soterramento PROBLEMA: Este modelo também exige algo um tanto irreal: que em dois mil anos desde a criação os angiospermas não teriam se espalhado por toda a parte. Além disso, a correlação faunal da evolução dos angiospermas no registro fóssil está bem documentada. Imaginem só uma rosa tentando fugir de um dilúvio, tentando alcançar uma região mais elevada mais rapidamente que a extinta Archaeofructus sinensis... Algo ilógico, sem dúvida.
Entretanto, mesmo que os problemas apresentados acima não existissem, ainda teríamos mais outro problema: como é que animais de uma mesma região teriam soterrados juntos, certinho, com continentes inteiramente implodindo sobre "hidroplacas" (como o próprio CTJ sugere), em tsunamis de quilômetros de altura e terremotos de escalas monstruosas?? E mais: pelo modelo CTJ deveríamos ter muito mais fósseis de animais terrestres do que aquáticos, e no registro fóssil na realidade ocorre totalmente o inverso... Além disso, nas últimas camadas, isto é, as do cenozóico, existem fósseis diferentes dos atuais, o que é contrário a idéia de que os fósseis da coluna geológica são todos recentes, pois se esperaria que os animais que foram soterrados no dilúvio fossem iguais ao que saíram da arca de Noé. É como a questão do caranguejo - nenhum trilobita foi achado na mesma camada geológica dos caranguejos, mesmo estes tendo habitado ecossistemas similares.
BOIANDO OU AFUNDANDO
Mas apesar disso, os CTJs também possuem uma outra explicação para a coluna: a de que os animais foram distribuídos daquela maneira devido á densidade dos seus corpos. Para isto, utilizam-se de uma experiência feita pelo geológo Leonard Brand, na Universidade de Cornell, EUA.
DIz-se que ele pegou 2 galões de água e ligou esses dois galões através de um cano. Ele encheu um dos galões com água e colocou vários tipos de solo no outro. Depois pegou diferentes grupos de animais mortos (peixes, anfíbios, répteis, mamíferos) de vários tamanhos e colocou nos galões. Assim, ele começou a fazer uma simulação de maré baixa e maré alta em sua "engenhoca", que funcionava como uma balança, como se ocorressem num período de 330 dias. No final da experiência, ele cosntatou que a lama nos galões formava camadas estratigráficas iguais às da coluna geológica e observou a ordem que os animais ficaram nestas camadas: anfíbios no fundo do tanque, répteis logo acima dos anfíbios, mamíferos logo acima dos répteis e aves na parte superior do tanque.
Baseando-se na ordem que os animais foram soterrados no tanque, a conclusão que ele e os CTJs tiraram a partir de tal experimento é a de que os fósseis e a coluna geológica se formaram durante o dilúvio. No entanto, os CTJs não citam alguns fatos importantes sobre a experiência de Brand e sobre a coluna geológica.
É um erro dizer que estes grupos de animais distinguem-se por "densidades". Por exemplo, uma baleia (mamífero) obivamente é bem mais densa do que uma rã (anfíbio)... Aliás, os animais do registro geológicos não estão distribuídos de acordo com uma ordenação hidráulica nem por densidade nem por condições hidrodinâmicas.
Os insetos conseguem também exemplificar muito bem o defeito deste raciocínio dos CTJs. Observe: um padrão geral é que, depois de grandes extinções, geralmente sobrevivam mais animais de menor porte, seguido por evolução de animais de tamanho maior. E tamanho é sim um fator relevante em hidrodinâmica, e essa hipótese não preveria uma ordenação pseudo-cronológica de estratos (como os CTJs sugerem), coincidentemente de acordo com uma história (para eles, suposta) evolutiva. Sem falar que estes grupos mencionados na experiência de Brand não ocorrem "isolados" completamente, cada um em seu extrato, ou seja, anfíbios não deram origem aos répteis e sumiram, mas sim continuaram existindo (e por vezes até sobre formas gigantescas, como o Prionosuchus, que tinha 9 netros de comprimento e chegou a conviver com répteis como o Scuttosaurus). O mesmo vale para os outros grupos de animais.
Existe o caso também de grandes camadas ou conjuntos de camadas estarem invertidos, ou seja, em muitos casos podemos ver extratos virados "de cabeça para baixo". Caso isto fosse resultante de um dilúvio global, como é que um lamaçal poderia ser invertido
Portanto, a experiência de Brand não explica a ordem dos animais da coluna geológica segundo um dilúvio, de maneira nenhuma.
IDADES EM EVIDÊNCIA
Mas vamos agora retornar ás questões das datações.
Como já dissemos anteriormente, os CTJs não possuem nenhum método para determinar a idade de determinado fóssil ou rocha, e os que a ciência dispõe são severamente criticados por eles. Mas, como a Sociedade Criacionista Brasileira mesmo admite, ainda não existem críticas satisfatórias. Como vamos ver agora, os diferentes métodos de datação dos fósseis não são concebidos pela imaginação dos cientistas e se baseiam em conceitos muito bem fundamentados, ou seja, as evidências mais sérias indicam que, sim, os fósseis possuem estas idades que os CTJs tanto "abominam"...
- Datação radiométrica
A datação radiométrica fornece idades de milhões de anos aos fósseis, e não se tratam de métodos falhos e sem fundamento; muito pelo contrário: a tecnologia de datação radiométrica encontra-se muito desenvolvida hoje, existindo não só o método carbono-14, mas sim dezenas de métodos radiométricos diferentes para se datar rochas, todos coerentes entre si e fornecendo idades de milhões a milhares de anos para os diferentes fósseis na coluna geológica- o que faz com que caia por terra a afirmação por vezes usadas que se tratam apenas de idades relativas e não absolutas. Tanta coerência entre os métodos de datação não fazem sentido se tal método fosse especulativo ou falho, ou seja, se fosse falho deveria haver inúmeras divergências, e não inúmeras "coincidências"...
Mas, resumidamente, qual é a ideia do método? Tomemos como exemplo o carbono 14: ele emite radiação, perdendo dois nêutrons e se transformando em carbono 12. Em 5 730 anos, uma certa quantidade de carbono 14 ficará reduzida à metade, sendo a outra metade transformada em carbono 12. Por isso, esse tempo é chamado de meia-vida. A meia-vida do carbono 14 é tão curta que ele apenas pode ser usado para medir restos de organismos que viveram até 70 000 anos atrás. Para organismos mais antigos usa-se o mesmo processo – mas torna-se necessário recorrer a outros elementos radioativo, de meia-vida mais longa, como referência, tal qual o método Potássio-argônio, Urânio-chumbo, Rubídio-estrôncio, etc.
Além disso, os métodos de datação radiométrica são também utilizados para pesquisa mineral, sendo uma ferramenta importante para na descoberta de novas jazidas minerais. Ora, então, se os fósseis supostamente não possuem milhões de anos, como é que pode este método funcionar tão bem??
- Os fósseis-guia
Quase nunca mencionados pelos CTJs, a datação por fósseis-guia, embora seja baseada na datação radiométrica para se obter o valor absoluto em anos, permite definir com muita precisão a idade de uma determinada camada. Os fósseis-guia são usados como uma espécie de indicador da coluna geológica, pois possuem características morfológicas muito distintas ao longo dela (são muito usados, para tal, fósseis microscópicos, como conchas de foraminíferos, por exemplo). A pergunta imediata, então, é: por que o dilúvio não sepultou os foraminíferos, por exemplo, de maneira aleatória, já que habitavam ambientes semelhantes (a maioria são marinhos)?
Estes fósseis também possuem ainda uma aplicação fundamental na pesquisa de novos campos petrolíferos, ao permitirem determinar as idades e paleoambientes á medida que as sondagens são executadas. E aí vem a pergunta: se a datação por fósseis-guia são uma farsa, como é que novos campos petrolíferos têm sido localizados com exatidão através deste método? Será que, se tal método fosse falho e os seres vivos tivessem apenas alguns milhares de anos, as indústrias de petróleo não teriam já ido a falência??
- Datação por gelo
A datação pelo gelo obtido em sondagens nas regiões glacias do planeta indicam idades de até 100 mil anos - muito maior do que a idade sugerida pelos CTJs - e há uma correlação muito forte com eventos históricos, como mudanças climáticas, desaparecimento de civilizações, exitnções de animais pré-históricos, etc. Claramente, se nosso planeta tivesse apenas a idade de 10 mil anos então essa correlação jamais deveria existir.
O JEITINHO DA COLUNA
A coluna geológica possui também alguns aspectos peculiares que simplesmente são uma grande dificuldade para o CTJ. Muitas alternativas são lançadas pelo CTJ á estes problemas, mas são respostas simplesmente sem fundamento científico. A Sociedade Criacionista Brasileira admite, no entanto, que tais problemas ainda permanecem sem solução em vista de uma Terra Jovem. Por quê? Porque são fatos que apontam para uma Terra muito antiga e consequentemente animais fósseis contidos nela também muito antigo, de modo que só o Criacionismo da Terra Antiga consegue se harmonizar com tais fatos e faz com que tais dificuldades se tornem evidência do Gênesis, não contra-evidências.
A distribuição dos fósseis, por exemplo, remonta uma ordem do simples ao mais complexo, afinal por mais que uma bactéria seja complexa, ela de fato possui uma estrutura muito mais simples do que a de uma caranguejeira, por exemplo. E não só uma ordem evolutiva, mas climática também, pois as espécies polares por exemplo aparecem sendo substituídas pelas de clima mais ameno quando se vai para outra camada. No entanto, num dilúvio onde a chuva foi um fator importante (senão o mais importante), era de se esperar que estes padrões não existissem e que os fósseis estivessem todos misturados, o que não é o caso. Também há indícios que mostram que algumas camadas na coluna geológica estão invertidas devido a interpéries ao longo do tempo, depois que já estavam como rocha. Mas isto não poderia acontecer no período de 2 mil anos exigido pelo CTJ - ao não ser que tivesse havido outro cataclisma ainda pior que o dilúvio que virasse as camadas "de cabeça para baixo", mas isto foge totalmente ás evidências científicas e bíblicas.
Mas, com relação a estrutura da coluna geológica em si (aspectos geológicos), tudo aponta para uma Terra antiga e não se encaixa de modo nenhum com uma Terra criada em 6 dias de 24 horas cada:
- Deriva continental
A deriva continental é explicada pela tectônica de placas. Se esta deriva continental ocorresse em 1 ano apenas durante o Dilúvio, como sugerem os CTJs, haveria uma fusão dos continentes por superaquecimento (atrito)... Mesmo que considerássemos a teoria das hidroplacas (formulada por Walter Brown e totalmente inviável por possuir erros científicos gravíssimos) também teríamos um problema aí: tsunames de quilômetros de altura se erguiriam e com certeza engoliriam a Arca de Noé se a deriva continental tivesse ocorrido em apenas 1 ano.
- As rochas magmáticas
No assoalho oceânico, que foi se formando com o preenchimento do espaço entre os continentes, as rochas magmáticas (basalto) estão dispostas em várias faixas com os minerais consitituintes, e estas ora indicam uma direção dos polos, ora a direção inversa (inversão de polaridades). Para isto ter acontecido, cada faixa de magma teve que se solidificar antes que outra fosse formada, o que demanada muito tempo, muito mais que meros 10 mil anos, pois estas rochas possuem vários metros de espessura. A única explicação CTJ dada para este fato é que, por ocasião de cada inversão da polaridade magnética, teria ocorrido um declínio momentâneo do campo magnético, o que supostamente permitiria uma maior incidência dos raios cósmicos que, segundo os mesmos, poderiam acelerar o decaimento radioativo das rochas. Porém, não há evidência nenhuma disto e não há também nada que mostre que raios cósmicos podem alterar o decaimento radioativo. O que sabemos é que os neutrinos da fusão nuclear das estrelas podem acelerar ou diminuir o decaimento radioativo, mas mesmo assim, levando em conta as atividades solares o que teremos é uma taxa não absoluta, mas média de decaimento. Ainda assim, imensuravelmente maior que os 10 mil anos criacionistas.
- Aspectos das camadas
Sabemos que existem dobras e falhamentos em camadas subjacentes de outra que não tem dobras e falhamentos. Isto implica que as camadas inferiores passavam pelo processo de diagênese e metamorfiscmo antes da disposição da nova camada. Outra coisa muito comum de se ver é a intrusão de magma em camadas sedimentares já consolidadas. Nada disso pode ser explicado por um dilúvio rápido e sem longos intervalos entre os eventos, de modo que os CTJs até hoje não conseguiram arranjar nenhuma explicação científica para este fato se ajustar na idade jovem para a Terra. Justamente por isto, dificilmente eles alegam acerca destes fatos.
Ora, se as camadas da coluna geológica se formaram em milhões de anos, como vimos acima, os fósseis contidos nela obrigatoriamente devem ter milhões de anos também, afinal, nenhum animal morto consegue se enfiltrar dentro de uma rocha já formada...
E OS TECIDOS MOLES?
Em 2005, paleontólogos encontraram uma substância transparente e "flexível" (vou explicar o porquê das aspas aí) na perna fossilizada de um Tyrannoraurus rex: filamentos de vasos sanguíneos, vestígios de células sanguíneas e de outras células responsáveis por compor e manter os ossos do animal. Tecido mole, ou melhor, moléculas orgânicas, não poderiam sobreviver há 65 milhões de anos, segundo os CTJs, logo, em teoria o animal em questão teria vivido há alguns milhares de anos e não há milhões e milhões de anos...
Depois, mais fósseis aparecendo apresentando algo do tipo, como o caso de um chifre de Triceratops (inclusive o cientista que fez essa descoberta era CTJ, utilizou isso para mesclar criacionismo na academia, e foi demitido por conta disso - confira exatamente o que aconteceu clicando aqui) em Mosassauros (réptil marinho) e dinossauros bico-de-pato.
Assim sendo, teoricamente, tecidos moles em fósseis seriam um ponto a favor para esse grupo de criacionistas porque, segundo eles, a Terra teria somente entre 6 e 10 mil anos. Mas a pergunta que não quer calar: tecido mole de dinossauro é realmente o "melhor amigo dos CTJs"? A resposta, na verdade, é NÃO. E vamos explicar, de forma bem didática, porque os tais "tecidos moles" não entram em conflito com qualquer idade antiga da Terra.
Primeiramente, vamos deixar claro que, quando falamos em tecido mole em fósseis, não estamos falando em algo como um filé de peixe preparado por uma dona de casa - como certa vez exemplificou (ainda que de uma forma bem humorada) o bioquímico Marcos Eberlin - mas sim em um tecido bem duro, como concreto mesmo. Tanto é que o nome mais usual, no caso, seria "tecido não-resistente", e não "tecido mole". Os tais tecidos, quando o animal era vivo, correspondiam ou a pele, ou músculos do animal que eram "moles", mas, no processo de fossilização, eles não se preservaram moles, mas sim "petrificaram", basicamente.
A imagem ao lado, que os CTJs gostam de mostrar para dizer que o tecido estava flexível, corresponde ao tecido desmineralizado em laboratório. Mas o fato é que ele estava bem "duro" quando foi achado. Mas ainda assim, podemos nos perguntar o porquê de tais moléculas orgânicas terem durado tanto tempo assim. Na verdade, realmente, isso não é algo comum de se acontecer, pois geralmente tecidos moles se decompõem e o material ósseo é substituído por minerais, formando uma espécie de molde de minerais - o fóssil. Então, o que aconteceu? Na realidade, para tecidos moles se mineralizarem, vários fatores diferentes podem acontecer. O artigo feito pela cientista Silvia Regina Gobbo traz uma explicação bem detalhada para o que aconteceu: no caso do Tyrannosaurus, do Brachylophosaurus (um dinossauro "bico-de-pato") e do chifre de Triceratops deu-se por preservação por bactérias específicas que existiam no ambiente em que os fósseis se conservaram. Confira o artigo na íntegra aqui. Outros casos de "tecido mole" conservados: - "Tecido mole" nos fósseis de Santanaraptor:
O Santanaraptor era um terópode que viveu no período Cretáceo onde hoje é o Ceará. Em seus fósseis, localizados na Chapada do Araripe (região que é de fato rica em fósseis) encontrou-se o tal tecido mole, em volta dos ossos, mas... como se desconfiou dissso? Pela coloração um pouco diferente, parecendo que tinha material em volta do osso, mas, no final das contas, tudo era "pedra", ou seja, não tinha carne mole ali...Então, colocou-se a amostra no microscópio eletrônico de varredura e checou-se que havia mesmo preservação de tecidos, fibras musculares por exemplo.
"Tecido mole" dos bichos do Cambriano: Paleontólogos descobriram fósseis com diversas partes moles extremamente preservados de mais ou menos meio bilhão de anos atrás - e isso já faz muito tempo - na formação Stephen, no Canadá (conhecida como "fauna de Burgess Shale"), e na formação de Chiungchussu, China. A composição química dos oceanos do Cambriano era muito diferentes da atual; isso bloqueou a atividade bacteriana e, portanto, a fossilização das partes moles do corpo foi possível. O engraçado é que esses animais são os "protagonistas" do "argumento da explosão cambriana", muito explorado pelo criacionismo. Resumindo, o argumento dos tecidos moles (que na verdade nem são moles) não pode ser utilizado para evidenciar que os fósseis são recentes porque, basicamente, esses tecidos não são iguais aqueles que duram pouco tempo na geladeira de casa, mas estão tão fossilizados quanto qualquer parte dura...
INDO PARA A BÍBLIA
Por fim, agora é imprescindível que voltemos a nossa atenção para a Bíblia - o "norte" dos CTJs - para, assim, vermos se de fato os fósseis são recentes mesmo ou não.
Para começar, já nos deparamos com um detalhe significativo: o que Noé usou para impermeabilizar a arca. Ele teria usado betume. Betume é um nome genérico para produtos que são retirados do petróleo, mas no caso de Noé, os teólogos e estudiosos acreditam que Noé tenha usado alcatrão. E o alcatrão usado pelos Hititas e possivelmente pelas pessoas da época de Noé, pelos dados históricos, era retirado do carvão para aumentar a uniformidade do calor sem criar chama na hora de trabalhar o ferro nas forjas (vale lembrar que os descendentes de Caim, conforme a Bíblia diz, já dominavam a produção de ferro e bronze). Mas o que isto tem a ver com a idade dos fósseis?
Tem tudo a ver... Acontece que os CTJs afirmam que as "florestas fósseis" do período geológico carbonífero não tem milhões de anos e se formaram no dilúvio. Porém, o carvão provém dos fósseis de árvores justamente deste período, que é de mais ou menos 300 milhões de anos a.C. Ora, se o registro fóssil do Carbonífero se formou no dilúvio, como é que então Noé estava utilizando um derivado dele para construir a sua arca para a proteção do dilúvio que ainda estaria por vir?? Seria o mesmo que, no caso, se alimentar de um bolo que ainda está para ser feito - algo que foge a lógica...
Além disso, a Bíblia nos dá a dimensão da Arca de Noé, e sabe-se que ao contrário do que muito se diz, a arca de Noé não serviria nem mesmo para levar os ovos de todas as espécies de dinossauros já catalogados. Quanto mais levar um casal de cada animal pré-histórico na Arca! Calcula-se que, se todos os animais do registro fóssil tivessem vivido numa mesma época, como sugere esta interpretação da Bíblia por parte dos CTJs, não haveria simplesmente espaço nenhum para o ser humano que, segundo a Bíblia, já tinha se expandido bem na Terra nesse tempo. Do contrário, o Dilúvio seria apenas uma inundação local, não a aterradora catástrofe que a Bíblia descreve (Gênesis capítulo 7).
Por fim, existe muitas entrelinhas no texto de Gênesis que dão a entender que a Terra e os primeiros animais não são "jovens" como o modelo CTJ propõe. Confira mais sobre isso clicando aqui. E além disso, a interpretação CTJ não é exclusiva... Existem diversas linhas de pensamento em torno de como interpretar os primeiros capítulos de Gênesis, como você poderá atestar nesse pdf (em inglês) sobre as diferentes ideias em torno da questão.
CONCLUSÃO
O CTJ, realmente, enfrenta grandes dificuldades, especialmente quando se fala a respeito da idade da Terra e dos fósseis. Contudo, mesmo depois de tudo o que foi apresentado aqui, o CTJ continua em pé. Mas por quê? Porque eles preferem uma teologia á verdade.
Isto até nos passa a impressão de que a teologia é mais importante do que a Bíblia... Mas como já pôde ser percebido, o problema nesta situação não está com a Bíblia, mas sim com tal teologia criacionista, que é quase que "endeusada" por quem defende esta tese. (Por isso "ai de quem contrariar o Criacionismo..."). E como dissemos, ela é uma de muitas outras interpretações... (cabe lembrar o que está registrado, também, em II Pedro 1:20 - "Nenhuma profecia é de interpretação particular" )
Mas no final das contas, qual é a Verdadeira Revelação? É o Criacionismo? Não, é a Bíblia. A ciência é nada mais nada menos que as descobertas da mente humana daquilo que existe e que Deus já fez, não tem nada a ver com teorias da conspiração. Portanto, no que devemos confiar: numa teologia que é aplicada na Bíblia que não se encaixa em nada com os dados do mundo natural, ou então com aquilo que Deus nos revela por meio de Sua Criação e da Sua Palavra? Há algo a se pensar...
BIBLIOGRAFIA:
http://www.burgess-shale.bc.ca/discover-burgess-shale/burgess-shale-fossils-and-their-importance http://www.unasp-sp.edu.br/pdf/museu/ALGUMAS_EVIDENCIAS_PRO_E_CONTRA_O_CRIACIONISMO.pdf http://www.revistabula.com/posts/ensaios/as-fraquezas-do-criacionismo http://www.ufrgs.br/paleodigital/Tempo_geologico4.html http://ceticismo.net/2012/08/20/rochas-linguarudas-desmentem-criacionismo/ http://clubecetico.org/forum/index.php?topic=22647.100 http://clubecetico.org/forum/index.php?topic=2237.50 http://judeu-autonomo.blogspot.com.br/2011/04/teoria-do-intervalo-o-que-e-isso-biblia.html http://cienciaxreligiao.blogspot.com.br/2013/01/dinossauros-e-o-diluvio-mais-um-show-de.html http://www.respondi.com.br/2010/04/o-que-biblia-diz-dos-dinossauros.html http://www.icr.org/article/carbon-dating-undercuts-evolutions-long-ages/